quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Projeto Sexualidade e Escola

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - FURG
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Pólo Santa Vitória do Palmar
Curso de Extensão Modalidade à Distância
Sexualidade e Escola

 
                                      A copa vai à escola.



Instituição: Escola Municipal de Ensino Fundamental General Artigas.

Público-alvo: Alunos da aceleração, dos primeiros e do segundo ano do Ensino Fundamental.



Objetivos:

- Estimular o pensamento crítico e reflexivo sobre a atuação de homens e mulheres na sociedade.
- Respeitar e valorizar as diferenças existentes entre as pessoas.
 - Criar oportunidades de integração entre alunos independentemente das diferenças.
- Propiciar através das atividades esportivas emoções as crianças.
- Desenvolver o espírito esportista para que esse aprendizado seja repassado para outras experiências futuras.
- Proporcionar momentos de reflexão sobre corpos, gêneros e sexualidade nas atividades esportivas.

Desenvolvimento

Temática: Futebol

Justificativa

Este tema foi selecionado pelos alunos, devido a copa que recentemente aconteceu, este foi amplamente discutido na sala de aula. Ficou claro que o futebol é o esporte de preferência das respectivas turmas: aceleração, primeiros e segundo anos do Ensino Fundamental.
Sabemos que o futebol é uma paixão nacional, é que há pouco tempo as mulheres estão ocupando espaço nessa modalidade esportiva, assim como em outros esportes. É fundamental que a escola propicie situações que trabalhem corpos, gêneros e sexualidade com os alunos evidenciando as diferentes manifestações, representações, preconceitos e identidades culturais.
Cabe a escola contribuir na reflexão de um novo olhar superando as perspectivas enraizadas culturalmente no convívio social. Dessa forma foi desenvolvido o projeto para realizar um trabalho contextualizado na escola incentivando o debate sobre corpos, sexualidade, gêneros, ética, respeito e valorização das diferenças e potencialidades de cada ser humano, evidenciando o esporte como uma atividade de integração.

Fundamentação Teórica:

A Educação no Brasil tem ainda um caráter excludente, segregativo e conservador e a inclusão de todos os alunos nas escolas tem sido um choque com o conservadorismo de nossas instituições de ensino, que estão pautadas para atender a um aluno idealizado e assim prejudicando a trajetória educacional de muitos estudantes.
Segundo Ribeiro...[et al.], 2008, p41:

A escola, enquanto espaço de reflexão dos acontecimentos, precisa construir identidades de gênero para os tempos em que vivemos, calcadas no principio de que os corpos são significados na e pela cultura, e por ela continuamente ressignificados.

Hoje vivemos um momento de transformação na concepção e nas práticas educacionais, um novo paradigma se afirma permitindo superar preconceitos, nos colocando diante de um desafio de sermos protagonistas das mudanças, tornando a escola um espaço de pertencimento e aprendizagem para todos os alunos indistintamente.
Conforme Quadrado (apud Ribeiro (org) 2008, p.37)
                             
 A escola é uma instituição que tem papel de destaque na produção de representações sobre os corpos e na produção de identidades. Sendo assim, torna-se importante que incorporemos outras abordagens sobre os corpos no currículo, buscando a superação das perspectivas biologizantes, fragmentadas e naturalizadas.

          Salientamos, então, que a escola é um lugar para todos, onde os alunos constroem os conhecimentos através de uma interação social conforme suas capacidades, suas diferenças, participando ativamente no meio educacional. Para a concretização desta educação, é importante que haja a atuação de todos os envolvidos no processo educativo, e esse papel não é de responsabilidade somente do professor, mas da escola como um todo, sendo imprescindível o respeito, a valorização das individualidades, o comprometimento de toda equipe escolar, bem como a participação da família.
           Neste sentido Goellner...[et al.], 2008, afirmam que “não podemos esquecer que as práticas corporais e esportivas educam os corpos, não apenas no que respeita a sua performance, saúde e beleza, mas, em grande medida, produzem marcas associadas ao gênero e à sexualidade.”
Desta forma ressaltamos que fazemos parte de uma sociedade totalmente heterogênea, onde as diferenças existem e prevalecem. Torna-se fundamental promover no espaço escolar situações-concretas que possibilitem reflexão de diferentes posturas e comportamentos enraizados em culturas socialmente transmitidas de geração a geração, em busca de novas aprendizagens e formação da cidadania.

Ações que foram realizadas:

- Vídeo sobre a história do futebol e construção da linha do tempo.
- Palestra com o professor de Educação Física para esclarecimento de dúvidas das turmas.
- Seleção de perguntas a serem feitas sobre o futebol, dúvidas sobre a história e também sobre as regras do futebol, o que leva um profissional ser considerado um bom jogador.
- Pesquisar quando a mulher começou a fazer parte do mundo do Futebol, qual é considerada a melhor jogadora de futebol nos últimos tempos e confeccionar cartazes salientando a participação de mulheres no futebol.
- Pesquisar quais os esportes mais praticados por homens e por mulheres, com a intenção de criar um mural para expor tais informações, discutir sobre o porquê desses resultados e se há esportes com participação exclusiva de homens ou de mulheres e relatar o que eles acham a respeito disso.
- Entrevista com os familiares ou pessoas conhecidas do sexo masculino e feminino referente ao futebol.
- Conversa com um treinador de um time feminino (será entrevistado pelos alunos)
- Pesquisa sobre os campeonatos que tiveram a participação de mulheres no futebol, representando o Brasil (laboratório de informática com os alunos).
- Confecção de maquete do campo de futebol com seus jogadores.
- Exploração do hino nacional, através do momento cívico.
- Reconhecimento das bandeiras Bandeira do Brasil, do Rio Grande do Sul e do Município do Chuí (trabalhos feitos com os alunos).

Culminância do projeto: campeonato entre as turmas da escola, onde o time de futsal e a torcida será mista, ou seja, presença de meninos e meninas.

Espaço físico: Salas de aulas, quadra de futebol e auditório.

Recursos materiais: quadro, giz, tv, dvd, vídeo, bola, folha de oficio, xérox, cartolina, pincel atômico, computadores, slides.

Recursos humanos:
- Professores e alunos.
- Palestrante: professor de Educação Física
- Participação das outras turmas na culminância do projeto.
- Treinadores de futebol.

Cronograma


Atividades
M
J
J
A
S
O
N
Planejamento

X

X





Postagem do projeto na plataforma



X




Execução do projeto




X

X

X

Elaboração do relatório final






X

Entrega do relatório final no encontro presencial







X


Avaliação: O referente projeto foi produtivo e significativo, os alunos foram participativos, realizando as atividades propostas com discussão, troca de idéias e convicções naturalmente enraizadas a respeito de corpo, gênero e sexualidade.


Resultados e discussões:

Durante o desenvolvimento deste projeto constatamos que os alunos foram atenciosos e interessados para discutir sobre corpos, gêneros e sexualidade.
 O nosso projeto teve como abertura a apresentação de quatro vídeos de curta duração:
Ø          História do futebol
Ø          Pioneiras do futebol feminino
Ø          Mulheres no esporte
Ø          Copa da África do Sul
Após assistir, debatemos sobre questões relacionadas aos vídeos propostos, refletindo sobre o tema e as divergências de opiniões sobre a participação da mulher no esporte.
Dessa forma passamos a realizar as atividades propostas neste projeto com o intuito de aprofundar e desmistificar conceitos pré-adquiridos enraizados naturalmente em nosso cotidiano.
Os alunos construíram uma maquete de um campo de futebol, modelando jogadores com argila. No entanto foi possível observar o quanto que as questões discutidas e até mesma pronunciada pelos próprios alunos, estão enraizadas naturalmente nas ações como simplesmente modelar apenas jogadores homens. Quando questionados por que modelar somente homens, alguns alunos falaram que os homens participam mais no jogo e jogam melhor, no entanto outros alunos disseram que tanto mulheres como os homens jogam bem por que o importante é ter habilidade. Dessa forma começou a discussão, a troca de ideias e informações, possibilitando assim a reflexão e a formação de novos conceitos diante da temática.
È possível perceber que mesmo atualmente, com as mulheres a cada dia conquistando seu espaço na sociedade onde está inserida, percebe-se que ainda existe machismo, preconceito na comparação de homens e mulheres, sendo possível constatar na realização de entrevistas realizadas para os pais ou responsáveis, onde as perguntas, formuladas pelos próprios alunos, deveriam ser respondidas por um homem e por uma mulher.
As respostas foram diversificadas, porém percebe-se que tanto homens como mulheres, demonstram ainda o quanto estão presentes afirmações  como:
- “futebol é para homem e não para mulher”
- “o homem joga melhor pela condição e porte físico”
- “as mulheres não podem aprender como os homens”
- “o homem por que é forte joga mais do que as gurias”
É importante que a escola propicie várias formas para discutir sobre essa temática, salientando que as diferenças estão presentes entre todas as pessoas, tanto entre os homens, entre mulheres, como homens e mulheres. E que estas diferenças perpetuam na sociedade devendo ser valorizadas e respeitadas.
As condições entre homens e mulheres são as mesmas, a diferença existente no caso do jogo que é a temática em evidência são suas potencialidades e habilidades que são desenvolvidas e aperfeiçoadas independentemente do sexo.
Nessa perspectiva ainda podemos analisar que alguns entrevistados já possuem uma visão diferente diante desse assunto, como:
- “temos bons jogadores de ambos os sexos”.
- “mulheres e homens estão em igualdade atualmente”.
- “acho que se bem treinados todos tem chance de ser bons”.
- “acredito que não tem distinção quem joga melhor, vai do talento de cada um”.
A escola pode contribuir para a formação de novos conceitos, num espírito de igualdade de direitos, solidariedade, valorização da cidadania e formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade, capazes de formular seus próprios conceitos e opiniões.
Ainda, foi construído com os alunos a Bandeira do Brasil, com material de sucata (cartelas de ovos), onde eles pintaram, com tintas, utilizando as devidas cores: verde, amarelo, azul e branco. Formaram as Bandeiras do Rio Grande do Sul e do Chuí, desenharam em papel oficio e as pintaram.
Aprofundando também a temática em questão os alunos realizaram pesquisas através da internet, livros, jornais e revistas, ampliando conhecimentos sobre os diversos esportes praticados por homens e mulheres no Brasil. Realizaram também confecção de cartazes e produções de frases relacionadas ao futebol.
As parcerias que tivemos através de explanação e palestras com outros profissionais de ensino como professor de Educação Física, treinador de futebol feminino foram fundamentais para a concretização do projeto, proporcionando um diálogo baseado em experiências vivenciadas pelos próprios profissionais.
O professor de Educação Física Rudimar enfatizou que durante suas aulas não há distinção entre meninos e meninas para a realização das atividades, destaca ainda, que todos apresentam condições de praticar qualquer esporte desenvolvendo e aperfeiçoando igualmente habilidades e capacidades.
Os treinadores contribuíram com uma palestra, apresentando vídeos e fotos relatando suas experiências como treinador que iniciou seu trabalho com um time masculino, uruguaio., depois começou a treinar um time misto e dessa forma conseguiu perceber   que os meninos já carregavam experiências por terem costumes de jogar bola no seu dia a dia  e que as meninas não apresentavam essa mesma experiência , porém tinham mais atenção para ouvir e respeitar as  regras do jogo.
 Atualmente eles trabalham com um time feminino, que participa de vários campeonatos, inclusive já ganhou premiações, costumam viajar, fazem excursões. Os treinadores contam com a participação de suas esposas e de alguns pais para dar o devido atendimento pessoal às meninas.
Para a culminância do projeto foi realizado um campeonato de futsal, no Ginásio Monumental, com a participação dos alunos envolvidos, contando também com a participação de outras turmas da escola, para assistir o jogo com torcidas organizadas.
As turmas foram divididas em quatro equipes mistas, realizando assim dois jogos, os vencedores destes jogaram novamente para então sabermos o time campeão. O juiz foi o professor de Educação Física Miguel.
Os alunos estavam motivados e alegres, souberam respeitar as regras do jogo, não havendo brigas e discussões. Os times foram divididos entre as cores vermelha e azul.
No final do campeonato, o time campeão foi premiado com uma medalha de ouro, o segundo colocado com uma medalha de prata, e os demais alunos com uma medalha azul pela participação no projeto.
A concretização do projeto foi muito significativo na prática escolar, constituir-se homem e mulher é participar ativamente na sociedade como cidadãos conscientes da importância de sua atuação, reconhecendo seus direitos e deveres, capazes de buscar, progredir, e compartilhar na diversidade o mesmo espaço do qual todos fazem parte.
É fundamental que a escola propicie situações que promovam a participação efetiva dos alunos, independentemente do sexo, ressaltando a importância do respeito e a valorização das diferenças sendo que todo ser humano é único e diferente entre si em suas diversas dimensões.

Bibliografia

QUADRADO, Raquel Pereira; RIBEIRO, Paula Regina Costa (ORGs). Corpos, gêneros e sexualidades: questões possíveis para o currículo escolar. (Caderno Pedagógico – Anos Finais). 2ª edição revisada e ampliada. Rio Grande: Editora da FURG, 2008.

RIBEIRO, Paula Regina Costa (ORG). Corpos, gêneros e sexualidades: questões possíveis para o currículo escolar. (Caderno Pedagógico – Anos Iniciais). 2ª edição revisada e ampliada. Rio Grande: Editora da FURG, 2008.

SILVA, Fabiane Ferreira da; MAGALHÃES, Joanalira Corpes; RIBEIRO, Paula Regina Costa; QUADRADO, Raquel Pereira (ORGs). Sexualidade e Escola: Compartilhando Saberes e Experiências. 2ª edição revisada e ampliada. Rio Grande: Editora da FURG, 2008.

http://www.youtube.com/watch?v=XJwRlpfEae8, acesso no dia 19 de setembro de 2010.


http://www.youtube.com/watch?v=QUUBwmMmnPs, acesso no dia 20 de setembro de 2010.












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